domingo, 23 de janeiro de 2011

Dois lados da mesma moeda

Pesquisando na Internet sobre o tema “Cobaias Humanas” acabei encontrando no site da revista SUPERINTERESSANTE uma reportagem que falava sobre a experimentação com humanos realizada durante o nazismo alemão. Resolvi então discutir aqui no blog alguns dos pontos abordados na tal reportagem.

Já é de conhecimento geral que durante o regime nazista milhares de vidas foram sacrificadas em nome da ciência (inclusive aqui no Blog esse assunto já foi abordado). Pessoas que eram diagnosticadas com alguma doença mental, como a lebensunwertes leben, ou "vida indigna de viver" eram mortas para que seus cérebros pudessem ser estudados. Formavam-se então coleções de cérebros, sendo que uma das mais famosas, contava, em 1944, com quase 700 cérebros.

August Hirt um médico nazista da Universidade de Estraburgo resolveu solicitar alguns cadáveres para lecionar anatomia na universidade. Então ele “encomendou” 115 prisioneiros judeus a Auschwitz,que foram executados e enviados para a Universidade. Seu objetivo era mostrar aos alunos que o povo ariano possuía uma anatomia superior.

Sigmund Rascher, outro médico nazista orgulhava-se ao falar: "Sou, sem dúvida, o único que conhece por completo a fisiologia humana, porque faço experiências em homens e não em ratos". Esse médico conduzia os experimentos em câmaras de baixa pressão, e por vezes abria o crânio das cobaias enquanto elas ainda estavam vivas para observar a formação de bolhas nos vasos sanguíneos enquanto as mesmas ainda estavam vivas. Esse mesmo médico iniciou posteriormente os estudos sobre a hipotermia.

O mais cruel dos médicos nazistas foi sem dúvida Joseph Mengele, que foi responsável pelo extermínio de aproximadamente 400 MIL VIDAS HUMANAS. Alguns dos mais bizarros estudos foram conduzidos por esse médico. Ele injetava tinta azul nos olhos de crianças na tentativa de torná-las parecidas com a raça ariana, unia veias de gêmeos na tentativa de criar siameses (algo super importante para o avanço da ciência, não?), fazia dissecações de anões vivos e muitos outros experimentos. Mengele não foi punido pois conseguiu fugir para o Brasil, onde ficou até a sua morte em 1979.

"Pacientes bebiam dos baldes de despejo dos ordenanças ou, quando ninguém via, drenavam água dos baldes de proteção antiaérea no saguão. Alguns chegavam a lamber a água usada para lavar o chão. Eu pesava os homens que faziam parte do teste todo dia e observei que a perda de peso diária era de até um quilo."

Enfermeiro de Dachau, sobre experimentos de ingestão de água salgada.

"Vi um prisioneiro suportar o vácuo até que os pulmões rebentaram. Certas experiências provocaram tal pressão na cabeça dos pacientes que eles enlouqueceram, arrancando os cabelos no esforço para aliviar o tormento. Dilaceravam as faces com as unhas, Batiam nas paredes, uivavam no intuito de aliviar a pressão nos tímpanos. Esses casos de vácuo absoluto terminavam geralmente com a morte do paciente."


Anton Pacholegg, prisioneiro de Dachau, assistente de experimentos na câmara de baixa pressão.


"Trouxeram de volta do laboratório dois gêmeos ciganos, que Mengele havia costurado um ao outro. Ele tinha tentado criar irmãos siameses unindo os vasos sanguíneos e órgãos deles. Os gêmeos gritaram de dor dia e noite até que a gangrena começou. Depois de 3 dias, morreram."


Eva Mozes-Kor, vítima de experiências de Mengele.

"Após cerca de 10 horas começavam a aparecer queimaduras no corpo todo. Havia feridas onde quer que o vapor desse gás houvesse alcançado. Alguns dos homens ficaram cegos. As dores eram tão fortes que era quase impossível permanecer perto de tais pacientes."


Testemunha de experimento com inalação e exposição ao gás mostarda no campo de Natzweiler.

Esses são exemplos dos depoimentos que algumas pessoas que conviveram de perto com as experiências nazistas deram.

Apesar de toda essa atrocidade cometida durante o regime nazista, não se pode simplesmente dizer que toda a experimentação que ocorreu naquela época foi baseada em sofrimento humano. Existiam pesquisas que não eram conduzidas como um “show de tortura”. E ainda aquelas que eram feitas dessa forma, produziram alguns conhecimentos que são utilizados até hoje, por exemplo: os coletes salva-vidas são feitos de forma que se mantenha o pescoço aquecido por que os nazistas demonstraram que isso aumentava as chances de sobrevivência dos náufragos em água gelada. Além disso já na década de 1940, o uso do cigarro na Alemanha era controlado, pois já se sabia dos efeitos adversos que a prática de fumar causava nas pessoas.

Esses são alguns dos exemplos de conhecimento cientifico que foi produzido a custa de vidas de cobaias humanas. No entanto não são os únicos. Isso gera uma série de debates sobre as questões éticas de se usar ou não conhecimentos produzido a partir de resultados obtidos durante o nazismo. Se por um lado seria mais fácil utilizar os resultados nazistas, pois novas vidas não precisariam serem perdidas, por outro lado é difícil utilizá-los e de certa forma estar sendo “cumplice” da crueldade dos cientistas da época, os quais, nem de longe atentavam para os aspectos éticos em seus estudos.

Referência Bibliográfica:

RODRIGO REZENDE. Doutores da agonia. Disponível em: <http://super.abril.com.br/superarquivo/2006/conteudo_437393.shtml>. Data de acesso: 23/01/2011.

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